As pessoas querem ser vistas. Essa é uma verdade que permeia as nossas relações desde que o mundo é mundo, mas não estávamos preparados para essa conversa. Aliás, nunca tornamos essa pauta tão relevante quanto agora, pós boom dos realities e a vontade explícita dos participantes pela fama e visibilidade, sejam pessoais ou de suas causas.
O Big Brother Brasil teve sua primeira edição exibida em 29 de janeiro de 2002, com uma segunda temporada sendo transmitida no mesmo ano. É exibido atualmente de janeiro até o final de abril, e consiste na mais bela (e bizarra) reprodução da sociedade atual, com seus conflitos e suas transformações altamente inflamáveis em proporções estratosféricas por um limitado prêmio em dinheiro.
Entretanto, apesar de ser o maior destaque do BBB até então, o prêmio de 1,5 milhão de reais oferecido ao ganhador do programa já não é mais a única razão para suas participações no reality show. Muitos deles entram no jogo para conquistar seguidores, ampliar seu alcance e, assim, obter grandes oportunidades de publicidade - que também viraram o grande carro-chefe do programa.
Segundo dados divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo, o Big Brother reajustou os preços de patrocínio acima da inflação, e chegou à 22.ª edição com cotas de anúncios custando até R$ 92 milhões, ou 17% a mais do que no ano anterior, mostrando que a roda ainda gira em um dos lados mais lucrativos do programa.
Um case de bastante sucesso que podemos citar, é o da Juliette Freire, ganhadora da 21ª edição do reality. Com 33,5 milhões de seguidores no Instagram, a maquiadora e advogada cobra aproximadamente R$ 120 mil por publipost na ferramenta, ganhando em torno de R$ 3,6 milhões por mês.
Outro case que podemos citar, é o do também participante da edição anterior do reality, Gil do Vigor, que já fez ações publicitárias para 15 marcas como Vigor, Casas Bahia, Amstel e Ânima Educação. Além do comercial mais impactante e um dos primeiros realizados pelo economista para o Santander, mostrando que a publicidade dá as cartas nesse jogo.
E, além da visibilidade, se em um passado não muito longínquo entramos em debates acalorados sobre a futilidade e perda de tempo do BBB, hoje caímos do cavalo. O programa ganhou mais credibilidade ao discutir temas de relevância social, causando comoção e identificação no público - o que contribui de um jeito quase que torto para cada uma dessas pautas necessárias no cotidiano.
Uma pesquisa realizada pelo professor de Psicologia Jonathan Cohen, da Universidade de Haifa, em Israel, e divulgada por uma reportagem da BBC Brasil, mostra que os telespectadores de reality shows desenvolvem grandes sentimentos de empatia pelos participantes e, se reconhecem em suas escolhas e ações.
Claramente, após todos esses fatos, constatamos por a+b que o Big Brother Brasil não é mais sobre o prêmio. É sobre a imagem vendável que os participantes querem criar. Não é mais sobre o jogo a curto prazo, mas sim, o temor do cancelamento por saber que não dará pra lucrar com sua própria imagem.
Se anteriormente já não eram totalmente verdadeiras as afirmativas de “eu sou eu mesmo 100%”, agora muito menos. Eles são a publicidade que vestem em cada ação. E talvez, isso seja a nova concepção que devemos ter de um reality.
Stephanie Ferreira, Head de Comunicação para Entidades
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